ABR1004_REDVET

Avaliação da produção de juvenis da espécie Pterygoplichthys pardalis (Castelnau, 1855) (cascudo-abacaxi) em tanques escavados no litoral centro-norte de Santa Catarina/Brasil.

Production of juvenile Pterygoplichthys pardalis (Castelnau, 1855) (Amazon sailfin catfish) in earthen ponds in North Central Santa Catarina/Brazil.

Artículo técnico-divulgativo

Abstract

Amazon sailfin catfish, Pterygoplichthys pardalis, a Brazilian native fish, has been showing potential for aquaculture in Santa Catarina because of high meat value, adaptation to lenthic and semi-lothic environments and resistance to low oxygen concentrations. The present study was carried out at CEPC-EPAGRI, Camboriú, North Central Santa Catarina state, aiming at assessing fish growth in monoculture and comparing weight gain among fish stocked in ponds supplemented with atracting substract with a group fed artificial feed daily. Fish were stocked at a density of 0.5 fish/m² in triplicate in six 120 m² earthen ponds. In the natural food group, plastic sheets (50cm x 20cm) were adapted in the tanks as periphyton attractant. In the artificial feed group, fish were fed a 36% crude protein compound feed. During culture pond water quality parameters (pH, dissolved oxygen concentration, ammonia, and temperature), and fish size (monthly) were measured. Total weight gain, daily weight gain, biomass gain, feed conversion rate, and survival rate were assessed for each group. Water quality parameters were within the standards for native fish farming. No significant differences(p<0.05, ANOVA) were found in fish weight and fish length between groups. In similar conditions, sailfin catfish farming with periphyton attractants is recommended for better mean final weight and mean final length values.

Keywords: pisciculture, monoculture, Pterygoplichthys pardalis, periphyton.

Resumo

O cascudo Pterygoplichthys pardalis, nativo do Brasil,vem despontando como espécies promissoras para Santa Catarina, devido ao elevado valor de sua carne, adaptação em ambientes lênticos e semi-lóticos podendo sobreviver com baixo teor de oxigênio. O experimento foi realizado no CEPC-EPAGRI situado no município de Camboriú, localizado na região do Litoral-Norte do Estado de Santa Catarina. Com o objetivo de avaliar o crescimento do cascudo, utilizando o sistema de monocultivo, comparando o ganho de peso entre 3 tanques com incremento de substrato atrator e 3 tanques com fornecimento diário de ração, foi utilizada densidade de 0,5 peixes/m² em cada tanque, os quais são escavados e posuem 120m² cada. No primeiro tratamento, com alimento natural, foram adaptados nos tanques lâminas plásticas de 50 centímetros de altura e 20 metros de comprimento, como substrato atrator para o perifiton. No segunto tratamento, os peixes receberam ração com 36% de proteína bruta. Para cada tratamento houve 3 réplicas. Durante o cultivo foram realizadas análises dos parâmetros físico-químicos da água dos tanques de cultivo (pH, oxigênio dissolvido, amônia e temperatura) e biometria mensal dos peixes. Ao final foi avaliado o ganho de peso total, ganho de peso diário, ganho de biomassa, taxa de conversão alimentar e taxa de sobrevivência para cada tratamento testado. Os parâmetros de qualidade da água estavam dentro da média dos padrões para criação de espécies nativas. Foi possível observar através da análise de variância, ANOVA, que não existiu diferença significativa de peso e do comprimento dos peixes em relação aos tratamentos dados, com p<0,05. Em condições similares, recomenda-se o sistema de cultivo para o cascudo com o uso de atratores em substituição ao fornecimento de ração, por apresentar melhores valores no peso médio final e comprimento médio final.

Palavras-chave: piscicultura, monocultivo, Pterygoplichthys pardalis, perifíton.

Introdução

A piscicultura está crescendo em ritmo acelerado no Brasil, apresentando índice superior ao obtido pela grande maioria das atividades rurais mais tradicionais, como pecuária e agricultura, afirma Ostrensky et al. (1998). A atividade de piscicultura tem por objetivos, questões comerciais, sociais, sanitárias e recreativas, segundo Menezes et al. (2001).

Segundo dados da FAO (2008), em 2005 a China obteve maior produção mundial de pescados, com 32, milhões t, enquanto o Brasil ocupava a décima sétima colocação. Nesse mesmo ano, a produção mundial total foi de 48 milhões de t, onde as principais espécies produzidas (em peso) foram: ostra, carpa prateada, carpa capim, carpa comum, mexilhão, carpa cabeça-grande, carpa, tilápia do nilo e camarão.

A produção brasileira de pescado em 2005 chegou a 1 milhão de t, próximo do volume de 2004, as regiões Sudeste e Sul obtiveram o pior desempenho relativo, com decréscimo de 20%, em relação à produção total de pescado a aquicultura participa com 25,6% (258 mil t) (FAO, 2008).

A produção da aquicultura continental é superior (69,7%) se comparada à aquicultura marinha no Brasil. Segundo a FAO (2008), a aquicultura continental, que possui uma produção de 179.746 t, representa 17,8% da produção total de pescado do Brasil e 46,6% do total da aquicultura nacional em 2005. Neste mesmo ano, o faturamento atingiu mais de US$38 bilhões, demonstrando tanto o crescimento em volume quanto o crescimento do preço médio por tonelada.

Querol et al. (2002) indica que os cascudos habitam ambientes lênticos e semi-lóticos, sua reprodução ocorre nos meses quentes do ano, cabe ao macho a função de carregar os ovos até o momento da eclosão, possui fecundidade baixa e ovócitos relativamente grandes. Apresentam corpo achatado e lábios modificados em um disco oral utilizado para fixação temporária ao substrato. O cascudo é espécie nativa do território brasileiro, sendo assim, encontrados em todas as regiões do país (NOMURA, 1984).

O nome vulgar “cascudo" foi escolhido devido à verdadeira couraça que recobre seus corpos: são pequenas placas ósseas adaptadas à maneira de escamas, que percorrem o corpo em várias fileiras, e lhes conferem aparência visual e sensação tátil de lixa. Essa armadura recobre apenas a parte superior dos peixes, deixando o ventre apenas com pele lisa, a boca localiza-se na face ventral e em algumas espécies é rodeada por barbas (SOUZA et al., 2008), a figura 1 representa a imagem do cascudo-abacaxi.

Figura 1. Imagem do cascudo-abacaxi (P. pardalis), obtida no CEPC-EPAGRI, 2009.

O cascudo-abacaxi vive em fundos de rios e lagos com altitude de até 3000 metros, se alimentam de lodo, vegetais e restos orgânicos em geral, relata Souza (2008). Segundo Murrieta (2008) a espécie habita zonas arenosas, rochosas e pantanosas da Bacia Amazônica, toleram temperaturas variadas de 20˚C a 26˚C e pH da água entre 6 e 7,5, não suportam sal, atinge tamanho de 40 cm, apresenta cor variando entre marrom e branca com pintas escuras, são ativos durante a noite. Possuem comportamento territorialista e agressivo com sua própria espécie, sendo passivo com as demais, nos dias atuais o cascudo-abacaxi é adaptado a vários habitats..

O cascudo-abacaxi tolera baixos níveis de oxigênio, pode realizar migrações ocasionais por cima da terra cita Bossa et al. (1982).Pterygoplichthys pardalis é considerado espécie invasora em varias áreas, incluindo: Hawaii, México, Porto Rico e nos Estados Unidos (BUNKLEY-WILIAMS et al., 1994 apud PAGE et al., 2006). Em adição foi estabelecida na Indonésia, Malásia, Taiwan e Cingapura, os efeitos ecológicos do cascudo-abacaxi nessas localidades ainda são desconhecidos. Porém, se presume que a introdução da espécie nos paises citados, se deu através do escape dos peixes das fazendas de aqüicultura ou de aquários (PAGE et al., 2006).

Um dos pontos principais para se trabalhar com P. pardalis é o mercado promissor que ela apresenta, além de ser espécie nativa do Brasil, é muito procurada na culinária e possui grande demanda para aquariofilia. Desta forma, é importante suprir parte desta necessidade através de experimento que visa ampliar o conhecimento tecnológico sobre o cultivo de cascudo, fornecendo suporte para que a espécie passe a ocupar maior parcela no mercado aquícola de Santa Catarina.

O presente trabalho propôs avaliar o crescimento até a fase de juvenis, do cascudo-abacaxi Pterygoplichthys pardalis em ganho de peso total para o sistema de monocultivo, com incremento de substrato atrator de perifíton e arraçoamento em tanques escavados, no litoral centro/norte de Santa Catarina.

Materiais e Métodos

O presente estudo foi conduzido no Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú CEPC-EPAGRI, durante os meses de janeiro a junho de 2009, compreendendo as estações de verão e outono. O município de Camboriú encontra-se localizado a 27˚00’00’’ de latitude sul e 48°38’00’’de longitude leste a uma altitude de 9 metros acima do mar, com temperatura do ar média anual de 19,5°C.

Neste experimento foi utilizado um total de 6 tanques em formato retangular com 120m² cada, sendo estes escavados, com taludes revestidos por pedra ardósia e fundo de terra. Em todos os tanques ocorre a entrada e saída de água independente para facilitar o enchimento e esvaziamento de cada unidade sem interferir nas demais. Cada tanque é equipado também com caixas de despesca de em média 2 m2, que facilita as despescas.

A água utilizada para alimentação dos tanques foi proveniente de uma barragem situada nas dependências do colégio agrícola junto a CEPC-EPAGRI, sendo o pH, o oxigênio dissolvido e a temperatura desta água monitorada durante todo o período do experimento, com a utilização dos seguintes equipamentos: peagâmetro digital modelo CE RS232 Interface para o potencial hidrogeniônico (pH), oxímetro AZ 8403 para o oxigênio dissolvido e um termômetro de mercúrio convencional para a temperatura. Foram ainda medidos dois valores de amônia total, na metade e ao final do experimento, através da técnica de titulação com auxílio do Kit técnico da Alfakit.

Os alevinos de P. pardalis utilizados no experimento, pertenciam ao Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú – EPAGRI, estes peixes foram provenientes de uma única desova realizada em dezembro de 2008. Os peixes estavam concentrados em um único tanque. A captura foi realizada com o auxílio de redes de pesca, logo após foram separados 360 alevinos de cascudo-abacaxi, os quais foram transportados dentro de um recipiente com água até os tanques em que seriam povoados.

Para todos os tratamentos foi utilizada densidade de 0,5 peixes/m2 para os tanques de cultivo, em um total de 60 peixes por tanque.

Para o primeiro tratamento com alimento natural, foram realizadas 03 réplicas, denominados de T19, T17, T15, com 120 m2 cada tanque. Nestes foram adaptadas lâminas plásticas com 50 cm de altura e 20 m de comprimento, que serviram como substrato para a aderência de perifíton.

O substrato atrator foi uma técnica implantada tendo em vista a eficiência do desenvolvimento de perifíton aderidos a objeto, neste local o cascudo pode fixar-se para se alimentar. A lâmina plástica abrange ampla área dentro do tanque e também, possui baixo custo de confecção e praticidade de utilização. Este tratamento é demonstrado na Figura 2.

Figura 2. Tratamento com substrato atrator CEPC-EPAGRI, maio de 2009.

Para o segundo tratamento, foram utilizados 03 tanques escavados, denominados de T18, T16 e T14. Os peixes receberam ração diária em pó, comercial da marca Gunz, com 36% de proteína bruta, na quantidade de 10% da biomassa existente em cada tanque, sendo oferecidas duas vezes ao dia. Procederam-se às biometrias mensais, fevereiro (inicial), março e abril, utilizando 15% do total de peixes de cada tanque, capturados nas despescas parciais com auxílio de uma rede de arrasto para alevinos com malha de 1,5 cm. A seleção dos indivíduos foi realizada de maneira aleatória e o transporte aconteceu através de baldes até o laboratório, onde foi realizada a biometria dos peixes. A biometria final, em maio, foi com 100% dos indivíduos sobreviventes de cada tanque, para isto foi realizada despesca total, onde os tanques foram esvaziados por completo, sendo os peixes coletados da caixa de despesca com auxílio de um puçá.

Para verificar a diferença de crescimento nos dois tratamentos estudados, analisou-se o comprimento total, em centímetros, obtido com o auxilio de um ictiômetro, e o peso total em gramas, em balança digital da marca Urano, modelo UD 1000/0,1, 1L.

Ao final do experimento, após a biometria final, frente aos valores obtidos, foram calculados os seguintes parâmetros:

- Ganho de peso total (g): através da diferença entre peso final e o inicial;

- Ganho de peso diário (GPD): através da diferença entre o peso final e o inicial dividido pelo total de dias de cultivo.

- Ganho de biomassa (g m-2): resultado da diferença do peso final pelo inicial dividido pela área do tanque.

- Taxa de conversão alimentar aparente: para o cultivo com arraçoamento, obtida mediante ao cálculo da quantidade de ração fornecida dividida pelo ganho de peso.

- Taxa de sobrevivência: divisão dos sobreviventes pela população inicial multiplicado por 100.

O delineamento experimental foi de dois tratamentos. No tratamento 01 os peixes receberam ração, na proporção de 10% da biomassa total, ofertada 2 vezes ao dia. No tratamento 02 os peixes não receberam ração e foi adaptado um atrator para a aderência de perifíton. Para cada tratamento foram realizadas três réplicas.

Os dados obtidos no tratamento 01 e tratamento 02 foram submetidos à análise de variância unifatorial (ANOVA) e a comparação das médias foram determinadas pelo teste de TUKEY (ZAR, 1996), sendo considerado um nível de significância de 95% (P < 0,05). As análises foram feitas com o auxílio do programa Statistica® 8.0.

Resultados e Discussão

Os valores de temperatura apresentaram típica variação de clima subtropical, iniciando na estação de verão com temperaturas elevadas, decrescendo de forma lenta ao decorrer dos meses. O Cascudo-abacaxi, segundo Murrieta (2008) fica em boas condições com temperatura de água oscilando entre 20˚C a 26˚C. Medidas pontuais de temperatura no presente estudo, obtiveram picos mínimos de 19˚C e máximos de 28˚C, mantendo-se dentro da média dos padrões de boas condições para a espécie.

Murrieta (2008) descreve que P. Pardalis permanece em boas condições em intervalo de pH entre 6,0 e 7,5, no atual estudo o peixe apresenta resultados satisfatórios de tolerância, em intervalo mais amplo que o descrito acima. Os valores mínimos e máximos de pH da água no cultivo de P. pardalis foram de 5,3 no tratamento 16 e 9,3 no tratamento 19, respectivamente.

Baldisserotto & Radünz (2004) relata que os alevinos de jundiá podem sobreviver em uma faixa de pH de 4,0 a 9,0. Fora desta faixa de pH, Rhamdia quelen começa a apresentar problemas de controle de íons corporais, o que pode levar a redução no crescimento ou morte do peixe. Esta afirmação pode ser válida para o cascudo-abacaxi, uma vez que os valores de pH não interferiram claramente no desenvolvimento.

As medições de oxigênio foram efetuadas no período da manhã, pois é o horário em que a quantidade de oxigênio costuma ser mais baixa, pois durante a noite as plantas existentes nos tanques consomem oxigênio em vez de produzi-lo. Portanto, os baixos valores de oxigênio dissolvido da água, presente nos cultivos, não se mantiveram constantes ao longo do dia, estes teores aumentavam expressivamente no final da tarde.

As oscilações médias de oxigênio dissolvido da água foram relevantes ao longo do experimento, atingindo valor mínimo de 0,2 em T17 e máxima de 13 no T19. A baixa concentração de O2 no T17 foi resolvida com a realização de uma renovação da água no cultivo, acarretando em um aumento gradativo deste parâmetro.

O crescimento de alevinos e sobrevivência de alevinos de jundiá é prejudicado com níveis de NH3 acima de 0,1mg/L (BALDISSEROTTO & RADÜNZ., 2004), infelizmente os níveis aceitáveis de amônia para P. pardalis ainda não estão definidos na literatura.

A amônia total da água foi verificada duas vezes durante o estudo, a primeira medição foi realizada na metade do experimento e a segunda ao final. A variação deste parâmetro químico da água no experimento atual variou de zero a 0,1, não interferindo claramente no desenvolvimento dos cascudos.

Os resultados encontrados (Tabela 1) no experimento foram verificados por análise estatística através da análise de variância, ANOVA, para os fatores comprimento e peso.

Tabela 1. Demonstra os resultados da análise de variância, ANOVA, com p<0,05 para os fatores comprimento e peso para P. pardalis.

A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos pela ANOVA, expondo os valores de F e p. Nota-se que os valores de (p) são maiores que 0,05 para ambos os fatores, comprimento e peso dos cascudos, sendo assim, o teste mostrou que não houve diferença significativa entre o tratamento com fornecimento de ração, e o tratamento com substrato atrator para aderência de perifíton.

A comparação das médias dos peixes entre os dois tratamentos testados foi determinada pelo teste TUKEY, considerando nível de significância de 95% (P < 0,05). Esta comparação, para os fatores comprimento e peso dentro de cada tratamento (com ração e com substrato atrator) estão contidas na tabela 2.

Tabela 2. Demonstra as médias dos fatores, comprimento e peso, dos indivíduos submetidos aos tratamentos, com ração e com substrato atrator, calculadas através do teste TUKEY para o cascudo-abacaxi.

A Tabela 2 contém os valores médios de crescimento e incremento de peso do cascudo-abacaxi ao final do experimento. As diferenças entre os tratamentos realizados estatisticamente foram baixos, sendo assim, sem diferença significativa.

López (2005) em experimento comparando o desenvolvimento de larvas de cascudo Rhinelepis aspero utilizando como alimento zooplâncton (Artemia. sp) nos primeiros 15 dias e ração (40% proteína bruta) até completar 28 dias de estudo, verificou que a espécie aceita as duas fontes de alimento oferecidas. Infelizmente não foi encontrado trabalho com comparações utilizando alimento natural durante os 28 dias, dificultado comparação nas taxas de incremento de peso entre os dois tratamentos. Apesar disso, pode-se notar que para a espécie R. aspero a ração foi bem aceita. Na taxa de incremento de peso dos alevinos de P. pardalis o fornecimento de ração bem aceito pela espécie.

Embora as dietas artificiais venham sendo utilizadas de forma decisiva no cultivo de peixes, como fator de sustentabilidade ecológica ou de viabilidade técnico-econômica da atividade (COLDEBELLA, 2002), grande parte dos estudos de nutrição de alevinos de espécies nativas no sul do Brasil são com utilização de R. quelen e refere-se à formulação de dietas artificiais, o que dificulta uma discussão mais abrangente dos resultados registrados com P. pardalis.

A tabela 3 revela os valores do ganho de peso total e diário, ganho de biomassa e taxa de sobrevivência para os dois tratamentos estudados e taxa de conversão alimentar para o cultivo com fornecimento de ração aos cascudos.

Tabela 3. Valores dos cálculos de ganho de peso total e diário, ganho de biomassa, taxa de conversão alimentar e taxa de sobrevivência, para o cascudo-abacaxi nos dois tratamentos testado.

De acordo com a tabela 3, observa-se diferença entre tratamentos, com

O cálculo do ganho de peso total realizado de forma matemática mostrou diferença relevante entre os dois tratamentos testados, de aproximadamente 4,5 g a favor do cultivo com aplicação de substrato atrator. Mesmo que os valores obtidos no experimento entre os cultivos fossem semelhantes, ou ainda levemente superiores nos tanques com arraçoamento, a utilização de substrato atrator se tornará mais interessante. Tendo em vista que esta elimina os custos do arraçoamento, que hoje em dia em um cultivo comercial de peixes é próximo a 60% dos custos totais da produção.

O ganho de biomassa é um índice de produtividade e está diretamente relacionada ao tratamento que obtiver maior ganho de peso médio. Neste estudo, pode-se notar que apesar do ganho de peso total de ambos os tratamentos serem estatisticamente iguais, observa-se que o peso médio foi maior no cultivo com substrato atrator, por conseqüência à biomassa também o foi (Tabela 2). Em sistema de monocultivo com jundiá o ganho de biomassa do peixe atingiu 0,12gm-2, fornecendo ração duas vezes ao dia (ALMEIDA, 2007), esta taxa foi levemente superior à biomassa alcançada por P. pardalis no presente estudo no cultivo com arraçoamento.

A relação direta com o incremento de peso, também é verificada para o ganho de peso diário, nesta análise como se observa na Tabela 2, foi maior no tratamento com o substrato atrator, este resultado foi inferior ao obtido pelo experimento de Almeida (2007) em monocultivo com jundiá, fornecendo ração bruta (40%), onde o peixe atingiu ganho de peso diário de 0,42 g/dia.

Quanto à taxa de conversão alimentar aparente, Luchini (1990) relata que juvenis de Rhamdia sp. com 12 a15 cm de comprimento, cultivados em temperatura de 26,0˚C, alcançaram conversão de 1,8:1. Para Saita (2008), em estudo com juvenis de tilápia verificou conversão alimentar de 1,97:1, alimentando os peixes com ração 2 vezes ao dia, durante 65 dias. O valor de conversão alimentar do presente trabalho (Tabela 2), verificado para P. pardalis em cultivo com fornecimento de ração demonstra estar superior aos citados acima, sugerindo que nas condições trabalhadas o cascudo-abacaxi possa ter conversões alimentares menores que o jundiá e a tilápia. Pelo fato do cascudo não estar adaptado ao consumo de ração, o resultado da conversão alimenta no estudo, foi satisfatório.

Almeida (2007) testou a sobrevivência de alevinos de jundiá, com fornecimento de ração (40% proteína bruta), em sistema de monocultivo, utilizando densidade de 1,5 peixes por m2,obteve taxa de 54,07% de sobrevivência. Este valor foi levemente superior à média obtida para este experimento com o cascudo, no tratamento utilizando ração (Tabela 2) que atingiu 51,7%.

A taxa de sobrevivência também pode estar diretamente relacionada com a densidade dos tanques. Em tanques com substrato, as taxas de crescimento foram mais altas, sendo indiretamente proporcional à taxa média de sobrevivência. Nos tratamentos com ração foi encontrado maior número de peixes, em contrapartida, seus pesos foram menores. Este fato corrobora com a afirmação de Murrieta (2008), a qual afirma que P. pardalis possui comportamento territorialista e agressivo com a sua própria espécie.

Braun (2005) afirma que em seu experimento com jundiás submetidos a diferentes teores de oxigênio, não encontrou correlação entre O2 e peso nos 10 primeiros dias. Aos 20 e 30 dias ocorreu correlação, verificando-se no primeiro, menor peso nas concentrações inferiores a 4,9 mg/L e no segundo em concentrações inferiores a 4,3 mg/L de O2. Este fato não ocorreu no presente estudo, pois o teor de O2 não afetou claramente o crescimento de P. pardalis. Por exemplo, no T14 obteve as melhores variaçõesdo parâmetro O2, e o crescimento do cascudo neste tratamento não foi tão significativo quando comparado ao T19 e T17. Nestes, apesar dos valores de O2 serem baixos, o peixe obteve maior taxa de crescimento. Confirmando a citação de Bossa et al. (1982) que o P. pardalis tolera baixos teores de oxigênio.

Conclusões

Nas condições em que foi realizado este experimento, podemos concluir que:

  • Estatisticamente não houve diferença significativa entre os tratamentos testados, no entanto os cascudos submetidos ao cultivo com substrato atrator adquiriram peso e comprimento final mais elevado.
  • O baixo teor de oxigênio e o pH na água não foram fatores limitantes para o incremento de peso do cascudo-abacaxi, porém, em baixas temperaturas o ganho de peso para P. pardalis foi menor.
  • O tratamento onde os peixes receberam ração obteve maior taxa de sobrevivência. Porém, esta afirmação pode ser contestada, devido aos predadores encontrados no tratamento com substrato atrator.
  • Asmenores taxas de sobrevivências nos 6 tanques ocorreram nos cultivos em que o teor oxigênio dissolvido na água foi menor.
  • Além da importância nutritiva com base na alimentação natural, a utilização desta em cultivos comerciais de cascudo, de acordo com os resultados obtidos neste trabalho, substituiria a prática do uso de arraçoamento reduzindo os custos finais do cultivo.

Bibliografia

ALMEIDA, D.R. Avaliação do jundiá (Rhamdia quelen) em diferentes sistemas de cultivo para a região do litoral centro norte de Santa Catarina. Itajaí, 2007. 58p. Trabalho de graduação (Bacharelado em Oceanografia) – Setor de Ciências Exatas, Universidade do Vale do Itajaí, 2007.

BALDISSEROTTO, B.; RADÜNZ NETO, J. Criação de Jundiá. Santa Maria: Ed. UFSM, 2004.